quarta-feira, 10 de junho de 2015

O PENSAMENTO DE ORÍGENES SOBRE A TRINDADE

1. A DOUTRINA DE ORÍGENES SOBRE A TRINDADE.

A fonte e o fim de toda a existência é Deus o Pai. Somente Ele é Deus no sentido estrito, apenas Ele sendo não gerado. A este respeito, Orígenes afirma ser significativo que Cristo falou dEle no Evangelho de São João como "o único Deus verdadeiro" (Jo. 17 - 3).
Sendo o Pai perfeita bondade e poder, sempre deve ter tido objetos em quem exercê-las. Portanto, o Pai trouxe à existência um mundo de seres espirituais, ou almas, que são co-eternas consigo. Para servir de mediador entre sua absoluta unidade e a multiplicidade das almas, porém, Deus Pai tem o seu Filho, sua imagem expressa. Assim, o Filho possui uma dupla relação para com o Pai e para com o mundo.
O Pai gera o Filho por um ato eterno, fora da categoria do tempo, de modo que não se pode dizer que (Ele) existia quando (o Filho) não existia. Além disso, o Filho é Deus, embora sua deidade seja derivada, e portanto Ele é um Deus Secundário, ou,na expressão grega original, `Deuteros Teos'.
Em terceiro lugar há o Espírito Santo, "o mais honorável de todos os seres trazidos à existência através do Verbo, o primeiro da série de todos os seres originados pelo Pai através de Cristo".
1.2. DISTINÇÃO DAS PESSOAS NA SANTÍSSIMA TRINDADE
Orígenes afirmou que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três Pessoas, a palavra empregada por ele para significar Pessoa sendo o termo grego "Hipóstase".
O termo que Orígenes emprega, "Hipóstase", originalmente é sinônimo de "Ousia". Ambos significam "Essência", ou aquilo que uma coisa é, e não a substância individual. Em Orígenes, entretanto, embora "Hipóstase" seja empregado às vezes com o significado de essência, o mais freqüente é que ele lhe dê o sentido de subsistência individual.
Orígenes afirma que o erro do monarquianismo está em tratar os Três como numericamente indistintos, separáveis somente pela razão, "não um só na essência, mas também na subsistência".
A doutrina verdadeira, na opinião de Orígenes, é que o Filho "é outro em subsistência além do Pai, mas um só em unanimidade, harmonia e identidade da vontade".
Assim, enquanto realmente distintos, os Três são de um outro ponto de vista um só; conforme Orígenes se expressa, "nós não temos receio de falar em um sentido de dois Deuses, em outro sentido de um Deus".
1.3. A UNIDADE DAS PESSOAS NA SANTÍSSIMA TRINDADE.
Em algumas passagens, Orígenes realmente representa a unidade das Pessoas como uma união moral. Ele afirma que elas são "um só em unanimidade, harmonia e identidade de vontade", suas vontades sendo virtualmente idênticas. Mas, consideradas isoladamente, tais passagens não fazem justiça ao pensamento integral de Orígenes a este respeito.
O ponto básico é que o Filho foi gerado, não criado, pelo Pai. Como gerado do Pai, Ele é eternamente emanado do ser do Pai e assim participa em sua Divindade. O Filho procede do Pai como a vontade da mente, a qual não sofre divisão neste processo. De acordo com o Livro da Sabedoria, Ele é um "sopro do poder de Deus, uma pura influência da glória do Todo Poderoso". Sab. 7, 25
Orígenes utiliza esta passagem para mostrar que "ambas estas ilustrações sugerem uma comunidade de substância entre o Pai e o Filho, porque uma efluência parece ser ‘homoousios', isto é, de uma só substância, com aquele corpo do qual esta é uma efluência ou vapor".
Assim segundo Orígenes, a unidade entre o Pai e o Filho corresponde àquela unidade que existe entre a luz e o seu brilho, ou entre a água e o vapor que dela emana.
Se, no sentido mais estrito, somente o Pai é Deus, não é porque o Filho não é também Deus ou não possui a Divindade, mas porque, como Filho, Ele a possui por participação ou de maneira derivada.
1.4. O ESPÍRITO SANTO.
O Espírito Santo, diz Orígenes, "fornece àqueles que são chamados santos, por causa dEle e de sua participação nEle, a matéria de suas graças, se é possível descrevê-las assim". "Esta matéria de suas graças", continua Orígenes, "é feita por Deus, ministrada por Cristo, e chega à subsistência individual como o Espírito Santo".

Assim, a raiz última do ser do Espírito Santo é o Pai, mas Ele é mediado para com o Pai pelo Filho, do qual o Espírito Santo também deriva todos os seus atributos distintivos.

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