1. A DOUTRINA DE ORÍGENES SOBRE A
TRINDADE.
A fonte e o fim de toda a existência é Deus o Pai. Somente Ele é Deus no
sentido estrito, apenas Ele sendo não gerado. A este respeito, Orígenes afirma
ser significativo que Cristo falou dEle no Evangelho de São João como "o
único Deus verdadeiro" (Jo. 17 - 3).
Sendo o Pai perfeita bondade e poder, sempre deve
ter tido objetos em quem exercê-las. Portanto, o Pai trouxe à existência um
mundo de seres espirituais, ou almas, que são co-eternas consigo. Para servir
de mediador entre sua absoluta unidade e a multiplicidade das almas, porém,
Deus Pai tem o seu Filho, sua imagem expressa. Assim, o Filho possui uma dupla
relação para com o Pai e para com o mundo.
O Pai gera o Filho por um ato eterno, fora da
categoria do tempo, de modo que não se pode dizer que (Ele) existia quando (o
Filho) não existia. Além disso, o Filho é Deus, embora sua deidade seja
derivada, e portanto Ele é um Deus Secundário, ou,na expressão grega original,
`Deuteros Teos'.
Em terceiro lugar há o Espírito Santo, "o
mais honorável de todos os seres trazidos à existência através do Verbo, o primeiro
da série de todos os seres originados pelo Pai através de Cristo".
Orígenes
afirmou que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três Pessoas, a palavra
empregada por ele para significar Pessoa sendo o termo grego
"Hipóstase".
O termo que Orígenes emprega, "Hipóstase",
originalmente é sinônimo de "Ousia". Ambos significam
"Essência", ou aquilo que uma coisa é, e não a substância individual.
Em Orígenes, entretanto, embora "Hipóstase" seja empregado às vezes
com o significado de essência, o mais freqüente é que ele lhe dê o sentido de
subsistência individual.
Orígenes
afirma que o erro do monarquianismo está em tratar os Três como numericamente
indistintos, separáveis somente pela razão, "não um só na essência, mas
também na subsistência".
A
doutrina verdadeira, na opinião de Orígenes, é que o Filho "é outro em
subsistência além do Pai, mas um só em unanimidade, harmonia e identidade da
vontade".
Assim,
enquanto realmente distintos, os Três são de um outro ponto de vista um só;
conforme Orígenes se expressa, "nós não temos receio de falar em um
sentido de dois Deuses, em outro sentido de um Deus".
Em
algumas passagens, Orígenes realmente representa a unidade das Pessoas como uma
união moral. Ele afirma que elas são "um só em unanimidade, harmonia e
identidade de vontade", suas vontades sendo virtualmente idênticas. Mas,
consideradas isoladamente, tais passagens não fazem justiça ao pensamento
integral de Orígenes a este respeito.
O
ponto básico é que o Filho foi gerado, não criado, pelo Pai. Como gerado do
Pai, Ele é eternamente emanado do ser do Pai e assim participa em sua
Divindade. O Filho procede do Pai como a vontade da mente, a qual não sofre
divisão neste processo. De acordo com o Livro da Sabedoria, Ele é um
"sopro do poder de Deus, uma pura influência da glória do Todo
Poderoso". Sab. 7, 25
Orígenes
utiliza esta passagem para mostrar que "ambas estas ilustrações sugerem
uma comunidade de substância entre o Pai e o Filho, porque uma efluência parece
ser ‘homoousios', isto é, de uma só substância, com aquele corpo do qual esta é
uma efluência ou vapor".
Assim
segundo Orígenes, a unidade entre o Pai e o Filho corresponde àquela unidade
que existe entre a luz e o seu brilho, ou entre a água e o vapor que dela
emana.
Se,
no sentido mais estrito, somente o Pai é Deus, não é porque o Filho não é
também Deus ou não possui a Divindade, mas porque, como Filho, Ele a possui por
participação ou de maneira derivada.
O
Espírito Santo, diz Orígenes, "fornece àqueles que são chamados santos,
por causa dEle e de sua participação nEle, a matéria de suas graças, se é
possível descrevê-las assim". "Esta matéria de suas graças",
continua Orígenes, "é feita por Deus, ministrada por Cristo, e chega à
subsistência individual como o
Espírito Santo".
Assim,
a raiz última do ser do Espírito Santo é o Pai, mas Ele é mediado para com o
Pai pelo Filho, do qual o Espírito Santo também deriva todos os seus atributos
distintivos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário