quarta-feira, 23 de março de 2016

AS CARTAS DE PAULO A SÊNECA/SÊNECA A PAULO



As supostas correspondências entre o filósofo Sêneca e o apóstolo Paulo de Tarso suscita interesse entre o cristianismo e a cultura clássica, particularmente daquele relacionado com o estoicismo e com Sêneca.
As lacunas existentes no que diz respeito ao tema, têm provocado à imaginação de cristãos e estudiosos ao longo dos séculos.
As fontes utilizadas são a versão para língua inglesa feita, em 1924, por M. R. James, medievalista da Universidade de Cambridge e a tradução, também para o Inglês, feita em 1938, por C. W. Barlowi em Roma.
A despeito das cartas serem consideradas apócrifas, as quatorze supostas cartas entre Sêneca e Paulo podem despertar, conforme mencionamos o interesse daqueles que se dedicam aos estudos do cristianismo primitivo.
Esses documentos são mais uma evidência da forte influência que a moral e a ética estoica exerceram sobre os primeiros autores cristãos. Essas cartas refletem uma conexão recíproca entre a fé professada pelos cristãos primitivos e os preceitos filosóficos da época, em particular o estoicismo. Quando se pensa em Sêneca e em Paulo de Tarso deve-se levar em conta sua comum identificação moral e ética, identificação implícita ou antecipada por Sêneca.
Como teria surgido a ideia da correspondência epistolar entre Paulo e o filósofo romano? Supostamente, devido à doutrina de Sêneca. Com efeito, há pontos similares entre Paulo (At 17) e Sêneca (v.g., Carta 90). O discurso do Apóstolo, no Areópago, e o esquema metafísico de Sêneca tinham por endereço um auditório e leitores de formação semelhante: filósofos estoicos, que criam na Providência, epicureus e ateus. (ULLMAN,1996, p.15).
Outro dado interessante é que pensadores cristãos da antiguidade tinham Sêneca em alta conta. Alguns até fizeram menção às cartas em seus escritos. Tais como: Urmeneta (1966), São Jerônimo (340 d.C. – 420 d.C.) não hesitou em situar a figura de Sêneca no Catalogus Sanctorum. Tertuliano, outro ilustre representante da Patrística, costumava chamá-lo de “Sêneca saepe noster” por considerá-lo “quase sempre cristão”.
Mesmo que haja um consenso entre os estudiosos de que tais cartas foram escritas por membros da igreja com vistas a legitimar a fé cristã, elas representam a expressão da influência que o estoicismo exerceu na estruturação do pensamento cristão. Essas cartas, voltadas ou não ao proselitismo, prestaram um serviço à Igreja como instituição. Por ironia, ou até mesmo por uma reciprocidade da “sorte”, “essas cartas, que apresentam Sêneca como cristão iniciando Nero no conhecimento da religião, mediante a leitura das cartas de São Paulo (...) contribuíram eficazmente para a conservação dos escritos genuínos de Sêneca” (ULLMANN, 1996, p.16).

Quem era Lúcio Aneu Sêneca (4 d.C – 64 d.C), filósofo, político e escritor, uma das personalidades de grande expressão em Roma no alvorecer da era Cristã, foi o maior representante do estoicismo imperial. Quando jovem, seu interesse pela filosofia começou em Pitágoras e ele se aproximou do filósofo Sotion. Posteriormente, recebendo os ensinamentos de Átalo, interessou-se pelo estoicismo. “Aos 25 anos, com a saúde debilitada, foi tratar-se em Alexandria, maior capital intelectual da época, e, enquanto se restabelecia, teve contato com importantes filósofos e com os arcanos das religiões orientais” (MAROTE, 2005, p.9).
Escolhido como preceptor do imperador Nero Cláudio César (37 D.c. – 68 D.c.), esteve à frente do império romano por quase dez anos. Acusado de conspiração, foi condenado ao suicídio pelo mesmo imperador a quem devotou grande parte de sua vida. O ecletismo resultante de tantas influências, e no qual prevalece o estoicismo, possivelmente desencadeou sua preocupação com questões éticas e morais, em especial, com o combate aos vícios.
Do outro lado tinha Paulo nascido em Tarso da Cilícia, cidade que lhe emprestou o nome. Seu nome original era Saulo (cerca de 3 a. c. – d.c. 66), considerado por alguns estudiosos da doutrina cristã uma das mais importantes figuras no processo de propagação do Cristianismo nascente. Ao contrário dos demais apóstolos, não conheceu Jesus pessoalmente. Homem culto teve sua primeira formação em sua cidade natal, como se infere pelo domínio da língua grega e pela retórica helenística que manifestava em seus escritos. Em sua juventude, estudou na escola rabínica de Jerusalém, presidida por Gamaliel, o mais célebre rabino da época. Nessa escola recebeu ampla formação farisaica e, possivelmente o título de “rabino”. Destacou-se, na esfera intelectual e prática a ponto de receber encargos diretos do sinédrio, ou tribunal judeu da sua cidade. “A sua mudança repentina do Judaísmo para o Cristianismo inquietou tanto os judeus como os cristãos, a ponto de os primeiros o perseguirem como apóstata e os segundos demorarem em aceitar” (SANCHEZ, 1996), o que não inviabilizou a sua ação missionária entre os povos que chamavam de pagãos.

1.    SÊNECA PARA PAULO, Saudações.

Eu creio Paulo, que você foi informado da conversa que tive ontem com meu amigo Lucílio sobre a Obra e outros assuntos. Certamente alguns de seus discípulos estavam comigo. Nós havíamos nos retirado para os Jardins de Sallust, onde, por nossa causa, os discípulos que mencionei, os quais estavam indo em outra direção, vieram e se juntaram a nós. Esteja certo de que ansiávamos por sua presença e eu também gostaria que você soubesse disso: sentimo-nos renovados pela leitura do seu livro, coletânea de inúmeras cartas de exortação dirigidas às cidades e capitais de províncias que apontavam para a vida moral por meio de admiráveis preceitos. Estes pensamentos, creio eu, não são expressos por você, e sim, através de você; mas certamente algumas vezes, por você e através de você. Eles expressam tanta leveza e brilho, permeados por um nobre sentimento que, em minha opinião, gerações de homens dificilmente seriam suficientes para estabelecê-los e aperfeiçoá-los. Eu lhe desejo boa saúde, Irmão.

2.    PAULO PARA SÊNECA, Saudações

Eu recebi sua carta ontem com extrema alegria e a ela teria respondido imediatamente se tivesse forças para fazê-lo. Digo-o por você saber quando, por quem, em que momento e para quem as coisas devem ser dadas e confiadas. Peço, pois, desculpas, e que você não pense que foi negligência de minha parte. Eu respeito a sua dignidade. Agora, onde quer que você esteja, peço que escreva que está contente com a minha carta. Eu ficaria feliz com a opinião de um homem da sua estatura: sei que você não diria isso de si mesmo. Um crítico, um filósofo, o professor de um grande príncipe; sei que não diria essas coisas a menos que fossem verdades. Espero que você esteja com saúde.

3.    SÊNECA PARA PAULO, Saudações

Eu estou compilando e organizando alguns escritos num volume. Eu também resolvi lê-los para César. Se a sorte me ajudar, que ele possa me ouvir com atenção. Talvez você também esteja lá. Caso contrário, eu marcarei um outro dia no qual possamos examinar juntos o trabalho. Realmente, eu não poderia apresentar este trabalho a ele sem primeiro saber da sua opinião, para que não haja risco de você achar que esteja sendo relegado. Adeus querido Paulo!

4.    PAULO PARA ANNAEUS SÊNECA, Saudações

Toda vez que ouço a leitura de suas cartas, penso que você está presente e me convenço de que está sempre entre nós. Destarte, em breve, quando você tiver partido, saberei que nos veremos no próximo trimestre. Eu lhe desejo boa saúde.

5.    SÊNECA PARA PAULO, Saudações

Nós estamos muito aflitos com sua retirada. Qual o problema? Que motivos o mantêm distante? Se for a cólera da Senhora (Pompaea)v por você ter abandonado o seu velho rito e se tornado um converso, ser-lhe-á dada a oportunidade de pedir a ela que considere que tal fato foi fruto de reflexão, e não uma atitude leviana.

6.    PAULO PARA SÊNECA E LUCÍLIO, Saudações

Sobre o tema que você abordou, eu não consigo me expressar com caneta e tinta, pois suas marcas mais tarde mostrarão o seu significado com clareza. Especialmente porque eu sei que entre vocês - especialmente entre você e os seus – há aqueles que me compreendem. Nós devemos respeitar a todos, e mais do que eles, nós estamos aptos a encontrar as causas da ofensa. Se formos pacientes com eles, nós certamente os superaremos em cada ponto, contanto que eles sejam homens que possam se arrepender de suas ações. Adeus.

7.    ANNAEUS SÊNECA PARA PAULO E THEOPHILUS, Saudações

Eu me considero feliz com a leitura das cartas que você mandou para os Gálatas, Coríntios e Aqueus. Desejo que possamos viver em harmonia de acordo com as exortações de suas cartas, uma vez que você demonstra ser inspirado pela graça divina; porque é o Espírito Santo que está em você e acima de você, quem expressa estes exaltados e adoráveis pensamentos. No entanto, peço que se acautele, para que o refinamento do estilo não esteja manifestando o desejo de glorificação do pensamento. Irmão, não escondo nada de você, e tendo isto em minha consciência, confesso que Augustus foi tocado por suas visões. Quando eu li para ele, revelando o poder que há em você, suas palavras foram estas: “Gostaria de saber como um homem não regularmente educado possa pensar assim”. Eu repliquei que os deuses muitas vezes falam por intermédio da boca dos simples, não daqueles que tentam enganosamente mostrar o que podem fazer através de seus conhecimentos; e quando mencionei o exemplo de Vatienius , o rústico, a quem dois homens apareceram no território de Reate, os quais posteriormente ele reconheceu como Castor e Polluxvi, ele pareceu completamente convencido. Adeus

8.    PAULO PARA SÊNECA, Saudações

Embora eu esteja convencido de que César, mesmo que eventualmente, erra, ele é um amante de nossas maravilhas. Acho que foi um grave erro da sua parte trazer ao conhecimento dele um assunto estranho à sua religião e educação. Sendo ele um adorador dos deuses das nações, eu não vejo por que você imaginou que ele poderia se interessar em conhecer esse assunto, a menos que você tenha feito isso por sentir uma profunda simpatia por mim. Eu lhe imploro que não repita isso no futuro. Você deve ser cauteloso em não ferir a simpatia da imperatriz por mim: Ainda que a raiva dela não nos fira se durar, nem nos faça bem se não durar, como uma rainha, não ficará zangada, como uma mulher ela ficará ofendida. Adeus!

9.    SÊNECA PARA PAULO, Saudações

Eu sei que você não está perturbado pelo conteúdo das minhas cartas em que menciono ter mostrado seus escritos a César; porém, muitas vezes as perturbações, também chamadas de ausência da razão, tiram do homem toda a capacidade de apreender e de ter uma boa conduta. Eu já não me surpreendo, pois tenho aprendido através de diversos exemplos. Vamos então agir diferentemente, e, se no passado algo foi feito de forma descuidada, perdoe-me. Eu lhe mandei um livro sobre a elegância de expressão (provisões de palavras). Adeus querido Paulo!

10. PARA SÊNECA, PAULO, Saudações

Sempre que lhe escrevo e não coloco meu nome após o seu (veja o título) eu cometo um delito contra os meus princípios. Porque devo, como declarei por diversas vezes, ser tudo para todos os homens e observar em você, a quem a lei romana concedeu a honra do senado, o fato de que se coloca no último lugar ao redigir uma carta, não fazendo - como eu - de uma forma confusa e vergonhosa. Adeus, mais dedicado dos mestres! Dado no dia 5 das calendas de julho, Nero a 4ª vez, e Messala, cônsul (A .D. 58).

11. SÊNECA PARA PAULO, Saudações

Saudações, meu querido Paulo. Você, tão grande homem, tão amado por Deus, seja, não unido, mas intimamente associado comigo e com o meu nome, e eu me sentirei completamente feliz. Você é o cume mais alto de todas as montanhas. Você não se regozijaria pelo fato de eu estar tão próximo a ponto de me tornar um segundo ego seu? Não pense, então, que você é indigno de ser nomeado primeiro no título das cartas. Você me faz acreditar que está me testando ao invés de brincar comigo, especialmente pelo fato de você saber que é um cidadão romano. Quanto à minha posição, preferiria que fosse a sua, e a sua preferia que fosse a minha. Adeus querido Paulo. Dado no dia 10 das calendas de abril. Aproniano e Capito cônsules (59 d.c.).

12. SÊNECA PARA PAULO, Saudações

Saudações, meu querido Paulo. Pensa que eu não estou triste e aflito por seu povo inocente ser frequentemente condenado a sofrer? E também, porque todos acham que você é tão insensível e tão propenso ao crime, que é o suposto autor de cada infortúnio da cidade? Vamos suportar isto pacientemente e contentar-nos com o que a sortevii nos traz, até que a suprema felicidade coloque fim aos nossos problemas. Nos tempos antigos era preciso suportar os macedônios, o filho de Felipe, e depois Dario, Dionísio, e em nossos dias temos que suportar Gaius César; para todos eles, seus desejos eram lei. O fogo devastou as planícies de Roma, mas se os homens humildes pudessem falar sem risco nesse tempo de trevas, tudo se tornaria evidente para todos. Cristãos e judeus são comumente executados como os autores do incêndio. Quem quer que seja o criminoso, cujo prazer é o de um açougueiro e que se esconde atrás de uma mentira, ele terá sua hora: e como o melhor homem foi sacrificado por muitos, assim ele, jurado de morte por todos, será queimado com o fogo. Cento e trinta e duas casas e quatro quarteirões foram queimados em seis dias, o sétimo trouxe uma pausa. Eu rezo para que você esteja bem, irmão. Dado em 5 das calendas de abril. Frugi e Bassus – cônsules (64 d.c.).

13. SÊNECA PARA PAULO, Saudações

Em muitas partes do seu trabalho estão incluídas parábolas e enigmas; portanto, a grande força e talento que foram dados a você deveriam ser embelezados, eu não digo com palavras elegantes, mas com certo cuidado. Você não deveria temer quando lhe lembro do que você frequentemente tem dito: que muitos que se preocupam com tais coisas corrompem o pensamento e tornam degenerada a profundidade do assunto. Eu queria que você me fizesse uma concessão e adaptasse o genial Latim, dando beleza às suas nobres palavras, e que a grande dádiva que tem sido concedida a você possa ser tratada com o devido valor. Adeus! Dada no dia antes de nones de junho; Leo e Sabinus cônsules

14. PAULO PARA SÊNECA, Saudações

Em suas meditações têm-lhe sido reveladas coisas que Deus tem concedido a poucos. Com confiança, portanto, eu semeio num campo já fértil uma semente mais prolífica; tal substância não está sujeita à corrupção, mas à palavra permanente, uma emanação de Deus que cresce para sempre. Essa sua sabedoria o tem edificado e você verá que ela é infalível para repelir as leis dos gentios e israelitas. Você pode se tornar um novo arauto, mostrando publicamente, com as virtudes da retórica, a irrepreensível sabedoria de Jesus Cristo. Tendo se aproximado dessa sabedoria, você reunirá condições de apresentá-la à monarquia profana, aos seus servos e aos seus amigos íntimos. No entanto, persuadi-los será uma tarefa difícil e áspera, porque muitos dificilmente se inclinarão às suas admoestações. Mesmo assim, se a palavra de Deus for instilada neles, será um ganho vital, produzindo um novo homemix incorruptível, e uma alma eterna que se dirigirá consequentemente, para Deus. Adeus, Sêneca, mui querido para mim. Dado nas calendas de agosto. Leo e Sabinus, cônsules As quatorze cartas, autênticas ou não, produto da imaginação ou uma estratégia de legitimação, ao menos ilustram a inegável valorização de Lúcio Aneu Sêneca por parte dos primeiros autores cristãos. Ao contrário de seus críticos, que na maioria dos casos se opunham ao seu pensamento e à sua prática política, os cristãos adotaram uma postura diferenciada e se voltaram para as suas ideias, suas sentenças e sua doutrina, orientação que gerou em alguns deles a ideia comum e aceita de um Sêneca pagão como precursor do cristianismo, e em outros, a de um Sêneca às vésperas da conversão ao cristianismo. Contudo, os legados são mútuos: se no século I d.c, Sêneca “emprestou” seu prestígio à fé cristã, provavelmente é a ela que ele deve a sua “sobrevivência” e notoriedade até os nossos dias.

segunda-feira, 20 de julho de 2015

O VERDADEIRO SENTIDO DA EXPRESSÃO "EU TE GUARDAREI DA HORA DA PROVAÇÃO" APC 3-10.

A intenção deste artigo é demonstrar detalhadamente que a expressão em Apocalipse 3-10 "...te guardarei da hora da provação...", não esta de forma alguma ensinando que a igreja de Cristo ficará de fora da grande tribulação, ou seja, será poupada, visto que será arrebatada para junto de Deus no céu, e consequentemente durante a grande tribulação estará desfrutando das bodas do cordeiro.
Conforme o relato de apocalipse fica na realidade evidente, que a igreja de Cristo estará presente na grande tribulação.
Vamos analisar o texto de Apocalipse 3:10 com uma tradução interlinear de sentido horizontal:
ὅτι (porque) ἐτήρησας (guardaste) τὸν (a) λόγον (palavra) τῆς (da) ὑπομονῆς (perseverança) μου, (minha,) κἀγώ (também eu) σε (te) τηρήσω (guardarei) ἐκ (de) τῆς (a) ὥρας (hora) τοῦ (da) πειρασμοῦ (provação) τῆς (a) μελλούσης (que está para) ἔρχεσθαι (vir) ἐπὶ (sobre) τῆς (o) οἰκουμένης (mundo) ὅλης (todo) πειράσαι (para provar) τοὺς (os) κατοικοῦντας (que habitam) ἐπὶ (sobre) τῆς (a) γῆς. (terra).
Alguns argumentos é de que o sentido "guardarei" em Apocalipse 3:10, significa "tirarei de um lugar e guardarei em outro lugar".
Porém, mesmo que conseguissem provar que essa é a forma como a igreja será guardada, a partir da hora da grande tribulação, nada no texto indica que este outro lugar é o céu. Aliás, o verbo "guardarei", só tem sentido se a Igreja continuar na terra, pois a provação virá sobre os habitantes da terra, e entre estes habitantes da terra estará a igreja de Cristo, que será guardada em meio a tribulação.
No Léxico do N.T. Grego/Português, F. Wilbur Ginglich & Frederick W. Danker (Edições Vida Nova), na página 206, temos as seguintes definições da palavra grega τηρέω:
1) guardar, manter vigilância sobre (veja Mateus 27:36,54; 28.4; Atos 12:5; 24:23);
2) guardar, reservar, preservar, manter (veja João 2:10; 17:11s, 15; Atos 25:21; 1 Co 7:37; 1 Timóteo 6:14; 2 Timóteo 4:7; 1 Pedro 1:4; Jd 1:13; Apocalipse 3:10; 16:15);
3) guardar, observar, prestar atenção a, cumprir (veja Mateus 23:3; 28:20; Marcos 7:9; João 9:16; 14:15,21; 1 João 3:22,24; Apocalipse 3:8,10; 12:17; 22:7).
Ao observar a oração sacerdotal feita por Jesus, em João 17:15, nós encontramos o verbo τηρέω (guardar) sendo usado como antítese do verbo αἴρω (tirar), vejamos:
οὐκ (não) ἐρωτῶ (peço) ἵνα (para que) ἄρῃς (tires) αὐτοὺς (eles) ἐκ (de) τοῦ (o) κόσμου, (mundo,) ἀλλ᾽ (mas) ἵνα (para que) τηρήσῃς (guardes) αὐτοὺς (eles) ἐκ (de) τοῦ (o) πονηροῦ. (mal).
No entanto, cremos que apenas considerar os verbos não lança luz suficiente para uma interpretação correta deste texto. O que será decisivo na interpretação deste texto, acreditamos, serão as preposições.
Preposição, como o próprio nome já indica, são palavrinhas "prepostas", ou postas antes dos substantivos. Elas são usadas para expressar a relação entre um substantivo e um adjetivo, verbo ou outro substantivo numa determinada sentença. Alguns teólogos pré-tribulacionistas insistem que o significado da preposição ἐκ em Apocalipse 3.10, significa "fora de", ficando o texto da seguinte forma: "...σε (te) τηρήσω (guardarei) ἐκ (fora de) τῆς (a) ὥρας (hora) τοῦ (da) πειρασμοῦ (provação)..."
O texto com a preposição ἐκ sendo traduzido por "fora de" fica completamente sem sentido: "...te guardarei fora da hora da provação...". Se ao menos estivesse escrito "...te guardarei fora da provação...", faria algum sentido. Porém, mesmo assim não iria favorecer muito a teoria pré tribulacionista, pois quando a preposição ἐκ tem o sentido de "fora de" quer dizer "fora de um lugar onde antes estava".
Neste caso, a Igreja já estaria passando pela provação, o que é contrário à teoria pré-tribulacionista, a qual ensina que a Igreja será arrebatada antes da grande tribulação.
Vejamos qual é o significado da preposição ἐκ de acordo com o Léxico do N.T. Grego/Português de F. Wilbur Ginglich & Frederick W. Danker (Edições Vida Nova), na página 66:
"ἐκ; antes de vogais ἐξ, prep. com gen. de, a partir de, de dentro de..." Aqui vale ressaltar um detalhe. Em Apocalipse 3:10, a preposição ἐκ é uma preposição de tempo, qualificando o substantivo ὥρας (hora). Vejamos então, o que os gramáticos de renome dizem da preposição em questão, sendo usada como uma preposição de tempo:
Uma das aplicações específicas de movimento físico ou espacial é temporal. A preposição ἐκ pode ser usada de um tempo restrito do qual alguém ou alguma coisa se moveu (Stanley E. Porter, Idioms of the Greek New Testament, página 155).
Tempo = Embora não seja tão comum, ἐκ pode expressar o momento em que começou algo, como em João 9:1 (o cego desde o nascimento), ou o comprimento do tempo em que algo acontece, como em Atos 9:33 (de cama por oito anos) (Richard A. Young Intermediate New Testament Greek, página 95).
A única preposição grega, que poderia salvar a interpretação pré tribulacionista deste texto, seria a preposição πρό, que significa "antes de". Nesse caso, o texto ficaria assim:
"...σε (te) τηρήσω (guardarei) πρό (antes de) τῆς (a) ὥρας (hora) τοῦ (da) πειρασμοῦ (provação)..."
Porém, não foi à preposição πρό que João registrou em Apocalipse 3:10, e sim a preposição ἐκ. Como já mostramos gramaticalmente, a tradução correta da preposição ἐκ em Apocalipse 3:10 é:
"...σε (te) τηρήσω (guardarei) ἐκ (a partir de) τῆς (a) ὥρας (hora) τοῦ (da) πειρασμοῦ (provação)..."
A seguir, fazemos uma tradução formal de Apocalipse 3:10, com o sentido correto da preposição ἐκ neste texto:
"Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei a partir da hora da provação, que está para vir sobre o mundo todo, para provar os que habitam sobre a terra".
Uma pergunta: Os filhos de Israel foram removidos para o deserto antes das pragas virem sobre o Egito? Não! Mas há muitas evidências de que eles foram protegidos das pragas:
Da mesma forma, que Israel foi protegido das pragas que vieram sobre os incrédulos, assim também os membros do Corpo de Cristo que estiverem vivos durante a grande tribulação, serão guardados contra as pragas que virão ao mundo.

Ev. Rogerio Godoi – Membro da AD em Cerro Azul – PR.


quinta-feira, 11 de junho de 2015

O FALAR EM LÍNGUA NO II E III SÉCULOS

OS PONTOS E OS CONTRA PONTOS NO FALAR EM LINGUAS NO ENTENDIMENTO  II e III SECULOS

Irineu (c.115-200), expõe o seu conceito sobre o falar em línguas (glossolalia). Nos da a entender que se refere a uma falar em língua de forma idiomática. 
Na sua obra apologética 'Contra Heresias', descreve condenando as ações de um certo Marcos que “profetizava”. Segundo Irineu, Marcos transmitia o seu charis (“dom”) levando outros a “profetizar”. Seduzia mulheres prometendo a charis. Quando essas mulheres supostamente recebiam o charis, falavam algo sem sentido:
“Então ela, de maneira vã, imobilizada e exaltada por estas palavras e grandemente excitada... seu coração começa a bater violentamente, alcança o requisito, cai em audácia e futilidade, tanto quanto pronuncia algo sem sentido, assim como lhe ocorre”. (Contra Heresias I, XIII, 3)69
Para Irineu o “profetizar” de Marcos era como “pronunciar algo sem sentido”, caracterizando uma fala não-idiomática (idioma desconhecido). Para Irineu, o falar em línguas não possuía semelhança com elocuções não-idiomáticas.
Irineu também se refere ao dom de línguas dos apóstolos e da época em que vivia. Cita II Co. 2:6, explicando que presenciou o falar em línguas, mas, com tudo o falar em línguas idiomáticas:
“... nós também ouvimos muitos irmãos na Igreja,... e que através do Espírito, falam todos os tipos de línguas, e trazem à luz para o benefício geral as coisas escondidas dos homens, e declaram os mistérios de Deus...”. (Contra Heresias V,VI,1)70
Ao informar que falam todos os tipos de língua, Irineu parece se referir a línguas que admitem classificação. A partir disto, presume-se que não se deva tratar de uma glossolalia não-idiomática. A glossolalia não-idiomática pode ser vista como uma “glossa” (como chama Patterson), naturalmente “uma” e não várias. Conclui-se que o peso da terminologia indica que Irineu se referiu aqui a uma linguagem idiomática. Parafraseando, “os irmãos falavam em todos os tipos de idiomas naturais”.

Montano (c.150-200), contemporâneo de Ireneu pensava de forma antagônica, sendo adepto ao êxtase religioso, com elocuções não-idiomáticas, semelhantes à glossolalia. De acordo com descrições de Apolinário (c.170 A.D.), registradas por Eusébio (c.265-?), Montano entrou em uma espécie de delírio. Ele acreditava que “encheu” duas mulheres com um “Espírito”, e elas falavam em línguas não-idiomáticas:
“ficou fora de si e [começou] a estar repentinamente em uma sorte de frenesi e êxtase, ele delirava e começava a balbuciar e pronunciar coisas estranhas, profetizando de um modo contrário ao costume constante da igreja (...) E ele, excitado ao lado de duas mulheres, encheu-as com o falso espírito, tanto que elas falaram extensa, irracional e estranhamente, como a pessoa já mencionada.” (História da Igreja V,XVI:8,9 – colchetes do editor) 74
Depreende-se deste texto que o fenômeno lingüístico montanista envolvia: (a) uma forte expressão emocional, deduzida das menções de “êxtase”, “frenesi” e delírio; (b) o texto indica uma linguagem não-idiomática, de “balbucios”, e um falar “estranho”, “irracional”.  

Tertuliano (150-220), convertido ao montanismo por volta de 206, desafia Marcion a exibir os dons espirituais de sua comunidade, citando “uma interpretação de língua”:
“...um salmo, uma visão, uma oração, que isto seja somente pelo Espírito, em um êxtase, que é em um rapto, sempre que uma interpretação de línguas tenha ocorrido a ele (...) todos estes sinais (ou dons espirituais) estão à disposição, do meu lado sem qualquer dificuldade”. (Contra Marcion V:3)76
Tertuliano apresenta a “interpretação de línguas” ocorrendo a partir de um “êxtase que é um rapto”. Mas perceba-se que não apenas a “interpretação” e uma “visão” ocorrem em “um êxtase”. Tertuliano dá a entender que o êxtase ocorria até na composição de um “salmo”, ou numa “oração”. Todavia deve-se lembrar que, dentre os fatores que levaram Tertuliano a tornar-se montanista, estava o descontentamento com a igreja romana por ter apoiado um massacre de compatriotas cartagineses.
Mas, ainda quanto ao montanismo, é fundamental perceber que aquele falar não-idiomático era “estranho” para a igreja do segundo século. A linguagem não-idiomática dos montanistas não despertava qualquer semelhança na experiência como na memória cristãs. Tanto que o montanismo foi considerado à margem da ortodoxia cristã da época.
Há, pelo menos, duas interpretações para a rejeição cristã ao montanismo. Na primeira, a igreja errou e o montanismo tinha razão. Na segunda, o montanismo foi o problema. Na primeira, (tendência do ponto de vista pentecostal), a igreja não teria compreendido corretamente o montanismo. O montanismo seria uma tentativa de reavivamento da fé apostólica. As “coisas estranhas” faladas pelos montanistas seriam uma linguagem não-idiomática semelhante à glossolalia apostólica e à atual. Segundo este viés, os cristãos do segundo século haviam se distanciado da igreja primitiva a tal ponto que não reconheciam o reavivamento e o fenômeno genuíno de “línguas”. Este ponto de vista justifica a glossolalia pentecostal.
Numa segunda perspectiva, o montanismo foi o problema. Não se questiona, que a “glossolalia” montanista se parecesse com a atual e que o montanismo foi uma tentativa de reavivamento. O que se põe em dúvida é considerar o montanismo um retorno a uma prática apostólica. Também há sérias dúvidas de que a igreja cristã, já em meados do segundo século tenha se esquecido da glossolalia apostólica.
A peça-chave deste argumento é que Montano era um sacerdote cibeliano da Frígia, recém-convertido ao cristianismo. E o “tipo de profecia” dos montanistas era “semelhante às visões extáticas e frenesis selvagens dos sacerdotes de Cibele”. Na antiga religião de Montano, “o sacerdote pagão podia jejuar, sofrer dor, dançar, ter visões, e profetizar”.
Sem considerar as distorções doutrinárias montanistas com rigor, Boer parece resumir a problemática: “ao se tornar cristão, ele deixou o paganismo, mas expressou sua nova religião da antiga maneira de pensar”. Logo, é plausível que a “glossolalia” montanista se tratasse de uma reminiscência dos excessos frígios. Sob esta ótica, a glossolalia pentecostal perdeu o apoio da igreja do segundo século e se alinhou com uma religião não-cristã da mesma época.

Orígenes (c.195-254), se opôs a um certo Celso, que clamava ser divino, e falava línguas incompreensíveis:
“A estas promessas, são acrescentadas palavras estranhas, fanáticas e completamente ininteligíveis, das quais nenhuma pessoa racional poderia encontrar o significado, porque elas são tão obscuras, que não têm um significado em seu todo.” (Contra Celso, VII:9)
Uma linguagem ininteligível soa “estranha”, “obscura” e “fanática” para Orígenes. Assim como para Irineu e mais tarde foi para Eusébio, os três sequer comparam os fenômenos linguísticos de Marcos, Montano e Celso a uma suposta glossolalia não-idiomática. Não se pode dizer que condenaram “falsas glossolalias” porque sequer a consideravam como “glossolalias”. Para Orígenes, as palavras “completamente ininteligíveis”, eram mais o subproduto de uma distorção religiosa.


quarta-feira, 10 de junho de 2015

A DOUTRINA DE TERTULIANO SOBRE A TRINDADE

 1. A DOUTRINA DE TERTULIANO SOBRE A TRINDADE
Tertuliano quanto à doutrina da Santíssima Trindade é mais explícita do que todos os demais pais da igreja.
Provavelmente por causa da tendência da Igreja Ocidental, da qual faziam parte. Tertuliano procurou tornar mais explícito em relação á Trindade, ao descreverem o Pai, o Filho e o Espírito Santo, usando o termo ‘Pessoa’ (Persona), termo aplicado ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Nos escritos de Tertuliano surge pela primeira vez á expressão ‘Trindade’, afirmando numa passagem da obra Adversus Praxean, que o Espírito Santo também é uma ‘Pessoa’, de modo que a Divindade é uma "Trindade".
Ele nos deixou a linguagem adequada em latim para expressar este grande mistério, introduzindo os termos de uma substância e três pessoas, esse termo não somente, proporcionou uma definição eficaz sobre o mistério Pai, Filho e Espírito Santos, como também foram decisivo nos conflitos posteriores com o arianismo.

1.2. O FILHO (JESUS) NA TRINDADE
Ele Também desenvolveu uma linguagem correta para expressar a dupla natureza de Cristo, o mistério de Cristo, filho de Deus e verdadeiro homem. Essa na verdade era o argumento que Tertuliano sempre defendia. Ou seja, para ele os cristãos não deixavam de adorar os deuses pagãos, simplesmente por deixar, mais o faziam na certeza de terem encontrado o verdadeiro Deus, Cristo Jesus o senhor. Como isso, toda a síntese proposta no credo de Nicéia, devem com certeza as contribuições de Tertuliano.

1.3. O PNEUMA (ESPIRITO SANTO) NA TRINDADE
O autor africano fala do Espírito Santo, demonstrado seu caráter pessoal e divino o mesmo diz: “Cremos que, segundo sua promessa, Jesus Cristo enviou por meio do pai o Espírito Santo, o paráclito, o santificado da fé de que crê: no Pai, no Filho e no Espírito Santo” (apologética 2).
Em Tertuliano o paráclito (consolador, ajudador, advogado) não era uma emanação da divindade, ou quem sabe uma espécie de “força ativa” de seu poder, como mais tarde afirmaria os “Testemunhas de Jeová”, mais sim a terceira pessoa da trindade, portanto Deus.

1.4. O PAI, O FILHO E O ESPIRITO SANTO
 Embora três, as pessoas são manifestação de um único poder indivisível, entre os três a uma distinção ou disposição, não uma separação, Tertuliano afirma que quando Jesus afirmou ‘Eu e o Pai somos um’, mostrou que os três são ‘uma única realidade’, não uma ‘única pessoa’, existindo uma identidade de substancia e não uma mera unidade numérica.

O PENSAMENTO DE ORÍGENES SOBRE A TRINDADE

1. A DOUTRINA DE ORÍGENES SOBRE A TRINDADE.

A fonte e o fim de toda a existência é Deus o Pai. Somente Ele é Deus no sentido estrito, apenas Ele sendo não gerado. A este respeito, Orígenes afirma ser significativo que Cristo falou dEle no Evangelho de São João como "o único Deus verdadeiro" (Jo. 17 - 3).
Sendo o Pai perfeita bondade e poder, sempre deve ter tido objetos em quem exercê-las. Portanto, o Pai trouxe à existência um mundo de seres espirituais, ou almas, que são co-eternas consigo. Para servir de mediador entre sua absoluta unidade e a multiplicidade das almas, porém, Deus Pai tem o seu Filho, sua imagem expressa. Assim, o Filho possui uma dupla relação para com o Pai e para com o mundo.
O Pai gera o Filho por um ato eterno, fora da categoria do tempo, de modo que não se pode dizer que (Ele) existia quando (o Filho) não existia. Além disso, o Filho é Deus, embora sua deidade seja derivada, e portanto Ele é um Deus Secundário, ou,na expressão grega original, `Deuteros Teos'.
Em terceiro lugar há o Espírito Santo, "o mais honorável de todos os seres trazidos à existência através do Verbo, o primeiro da série de todos os seres originados pelo Pai através de Cristo".
1.2. DISTINÇÃO DAS PESSOAS NA SANTÍSSIMA TRINDADE
Orígenes afirmou que o Pai, o Filho e o Espírito Santo são três Pessoas, a palavra empregada por ele para significar Pessoa sendo o termo grego "Hipóstase".
O termo que Orígenes emprega, "Hipóstase", originalmente é sinônimo de "Ousia". Ambos significam "Essência", ou aquilo que uma coisa é, e não a substância individual. Em Orígenes, entretanto, embora "Hipóstase" seja empregado às vezes com o significado de essência, o mais freqüente é que ele lhe dê o sentido de subsistência individual.
Orígenes afirma que o erro do monarquianismo está em tratar os Três como numericamente indistintos, separáveis somente pela razão, "não um só na essência, mas também na subsistência".
A doutrina verdadeira, na opinião de Orígenes, é que o Filho "é outro em subsistência além do Pai, mas um só em unanimidade, harmonia e identidade da vontade".
Assim, enquanto realmente distintos, os Três são de um outro ponto de vista um só; conforme Orígenes se expressa, "nós não temos receio de falar em um sentido de dois Deuses, em outro sentido de um Deus".
1.3. A UNIDADE DAS PESSOAS NA SANTÍSSIMA TRINDADE.
Em algumas passagens, Orígenes realmente representa a unidade das Pessoas como uma união moral. Ele afirma que elas são "um só em unanimidade, harmonia e identidade de vontade", suas vontades sendo virtualmente idênticas. Mas, consideradas isoladamente, tais passagens não fazem justiça ao pensamento integral de Orígenes a este respeito.
O ponto básico é que o Filho foi gerado, não criado, pelo Pai. Como gerado do Pai, Ele é eternamente emanado do ser do Pai e assim participa em sua Divindade. O Filho procede do Pai como a vontade da mente, a qual não sofre divisão neste processo. De acordo com o Livro da Sabedoria, Ele é um "sopro do poder de Deus, uma pura influência da glória do Todo Poderoso". Sab. 7, 25
Orígenes utiliza esta passagem para mostrar que "ambas estas ilustrações sugerem uma comunidade de substância entre o Pai e o Filho, porque uma efluência parece ser ‘homoousios', isto é, de uma só substância, com aquele corpo do qual esta é uma efluência ou vapor".
Assim segundo Orígenes, a unidade entre o Pai e o Filho corresponde àquela unidade que existe entre a luz e o seu brilho, ou entre a água e o vapor que dela emana.
Se, no sentido mais estrito, somente o Pai é Deus, não é porque o Filho não é também Deus ou não possui a Divindade, mas porque, como Filho, Ele a possui por participação ou de maneira derivada.
1.4. O ESPÍRITO SANTO.
O Espírito Santo, diz Orígenes, "fornece àqueles que são chamados santos, por causa dEle e de sua participação nEle, a matéria de suas graças, se é possível descrevê-las assim". "Esta matéria de suas graças", continua Orígenes, "é feita por Deus, ministrada por Cristo, e chega à subsistência individual como o Espírito Santo".

Assim, a raiz última do ser do Espírito Santo é o Pai, mas Ele é mediado para com o Pai pelo Filho, do qual o Espírito Santo também deriva todos os seus atributos distintivos.